domingo, 24 de junho de 2007

A iniciação no mundo do crime - parte 1

20/06/2007

Como sempre saí de Luanda às 5:30 a.m.
Apanhei o trânsito do costume em Viana, parei para comprar uma recarga do telemóvel e fui fazendo uma lista mental das coisas que queria resolver durante o dia.
Já á saida de Viana, quase a chegar à obra, um polícia de trânsito mandou-me parar.
Disse-me que os meus documentos não estavam em ordem, eu perguntei porque e ele respondeu:

-" O sr. vai se entender com a DEFA" (Departamento de Estranjeiros e Fronteiras de Angola).
E eu:

-"Mas qual é o prblema Sr. agente?"

E ele:
-"Você já tá com saudades da Tuga, amanha já vai ver sua familia!"

Entrou no meu carro, guardou os meus documentos e levou-me para o comando da polícia.
Fizémos o caminho no sentido contrário e eu só pensava nas coisas que tinha para fazer e que tinha de enfrentar de novo o mesmo trânsito para chegar à obra, tudo aparentemente por nada.
Chegámos ao comando da polícia às 8:30 e o agente, ao qual não consegui arrancar nem mais uma palavra (nem o nome) pediu-me para aguardar um bocadinho.
Entretanto começaram os meus contáctos com pessoal amigo da empresa que tinha conhecimentos la dentro, para tentar saber qual era o problema e ver se me safava.
Não vinha ninguem ter comigo, tinham-me tirado todos os documentos e mantinham-me à espera... à espera...
Por volta do meio dia, enchi-me da situação, perguntei quem é que estava com o meu processo e pedi para falar com ele.
Era o "comandante Chagas", uma pessoa delicada como uma flor, muito simpático e extremamente atencioso ( como devem clacular).
Mais uma vez não me disseram qual era o problema, apenas que me ia entender com a DEFA.
Esperei...
Vim a saber que as pessoas que intercederam por mim anteriormente, aparentemente não tinham "peso" suficiente, pelo que o comandante chagas se limitou a contactar os inspectores da Defa para que me viessem buscar.
Esperei...
Sem comer, nem beber, nem uma satizfação, esperei...

Às 17:00h apareceram os inspectores da DEFA, que tamém se recusaram a identificar e mandaram-me uns berros para subir num jeep de caixa aberta.
Quando perguntei se podia apanhar as minhas coisas e ligar a alguem para me vir buscar o carro, apontaram-me umas armas e mandaram novos berros:

-"Sobe!"

Subi. Não sabia para onde me levavam, imaginem o panorama... um branco loirinho sentado na caixa aberta da polícia, sirenes, luzes, um monte de polícias negros com coletes e armados, a guardarem-me, a passar na hora de ponta na estrada mais movimentada... a população toda olhava para mim, uns riam, outros diziam:

-"O branco vai preso!"

Passados 30 minutos disto, chegámos a um sitio que era tipo um campo de refugiados com aqueles descampados e redes com presos pendurados nelas.. tão a ver a imagem?

Mais uma vez, um berro:

-"Desce!"
-"Osteus documentos?"
-"São voces que os têm", disse eu.

... assim que desci os prisioneiros começaram a rir, a bater palmas e a gritar " O branco vai preso, o branco vai preso!"

Mandaram-me encostar a uma parede, tiraram-me umas fotografias e enfiaram-me num autocarro.

Não sabia para onde me levavam...
Passado algum tempo deixaram-me outra vez no comando da polícia, mandaram-me aparecer na DEFA de Luanda no dia seguinte e foram-se embora com os meus documentos, mais uma vez sem qualquer explicação acerca do que se passava.

Fui para casa, comi finalmente, trabalhei até á meia noite e fui-me deitar.

3 comentários:

bfbraga disse...

porra

jorge fig disse...

Bem, eu pensava que em Africa o ritmo era algo + lento e até monotono.. É O BRONX!!!
Esta parte 1 é a sério !
Força João e boa Contenção:
É quando conseguimos fazer a raiva empatar com a educação...

antónio magalhães disse...

isto de ser delinquente no estrangeiro tem o seu quê...

se foste à procura de aventura, já arranjaste uma boa para contar aos netos.
se aguentas estas merdas e ainda estás aí, sócio, estás vacinado!!!

abraço vasquito